O giz utilizado nas lousas escolares comporta grande memória afetiva... Trata-se de um objeto que terá seu uso cada vez mais raro perante as novas tecnologias de educação para escrita ou suportes para o professor ensinar presencial ou virtualmente. Transformar conjuntos coloridos de giz em arte evoca, portanto, raros instrumentos e modelos de salas de aula. Além de tudo, cada giz traz intrínseco à sua própria matéria a iminente impermanência, desintegrando-se com um simples gesto, seja na hora da aula ou das guerras de giz entre colegas de classe quando sozinhos nas escolas.
A sua transformação em objeto artístico os congela no tempo e estimula recordações em cada observador. O acabamento das obras de Renato Gosling em que são “dobrados” por uma lixa, evoca as mutações do tempo. Com um forte poder simbólico e, ao mesmo tempo, frágeis, podem ser destruídos à marteladas e colados sobre tela. Ordem e desordem, portanto, caminham juntos nesta poética de entender os objetos do mundo considerado real como ponto de partida para a reflexão artística sobre as possibilidades de ver e ler a interioridade de cada coisa e seu entorno. O giz, do modo que era entendido pela escola tradicional, perdeu seu lugar, mas a arte o recupera e o posiciona com afeto no tempo e no espaço.
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